junho 08, 2013

Olá, meu nome é Medo.

O que eu fiz...?

O que eu me tornei?


É quase bizarro quando você decide o dia em que resolverá seu segredo para que esse não te apavore mais.
Encarar seus próprios medos de frente, nem sempre a luta com o medo é algo que você travará de uma só vez e sairá vitorioso... Muitas vezes ganha-se a batalha mas pouco depois o medo da vingança é quase tão avassalador quanto o próprio medo que supostamente se derrotou.

Eu enterrei. Em meio a um turbilhão de emoções, eu decidi que seria esse o dia.

Caminhei, com meu corpo e alma nús rumo ao meu destino, o destino que eu escolhi, descobrir através do espelho e confrontar meus medos. Segui pisando no vidro cortado lacerando cada centímetro de meu corpo. Pensei em voltar, em dar meia volta e correr, eu vi a porta de vidro estendida na minha frente e por um micro segundo eu quase exitei e corri para longe... Mas antes que essa se fechasse eu segui.

Ali eu colocaria um fim.

Meu corpo estremecia de frio, de medo, do desconhecido do que estava para se dar...
Tentara mais cedo dopar meus sentidos embragando-os mas foi em vão... eu estava lucido e com plena consciência do que estava prestes a fazer.

Seguindo, olhando, atento procurando memorizar o caminho de volta caso tivesse que fugir ou correr. Sorrisos e provocações me eram lançadas em alerta, o caminho era tortuosos, uma porta de barras, uma de madeira e finalmente a ultima porta para o covil.

Era tudo como num episódio minuciosamente escrito para a série, tudo de ponta cabeça em um salão único, não existia uma ordem, apenas uma sala de puro caos.

Não demorou minutos até que os espelhos estivessem posicionados para a dança e para o baile de mascaras de carne e pecado.

Meu corpo estremeceu ao som singelo do arfar de pulmões. Começou e agora era seguir.

Novamente me vi num precipicio, a paisagem era linda porém não a mais bela que já havia visto. O sol nascia em pequenos raios de luz penetrando o cinza da noite e eu com os pés sobre o vidro estilhaçado. Fragmentos sem nome que agora possuiam um significado novo banhados pelo meu sangue que ficara pelo caminho. A ponta do precipício era cada vez mais eminente. Cada vez mais próxima. Cada segundo mais rápida meu coração batia, a brisa gelada, a carne, as peles de animais desconhecidos o algodão branco e a sujeira. Tudo isso a minha volta e eu na beira do precipício.

O espelho apareceu em minha frente e então pude ver. Era um reflexo deturpado cheio de marcas por todo o corpo e esse estendeu sua mão para mim, eu estiquei a mão mas ainda sim não podia alcançar... o espelho estava alguns passos além do precípicio. Eu esta com tanto medo... Mas eu ao mesmo tempo querendo tanto encerrar de uma vez aquela guerra que a anos vinha sendo travada nos salões de minha mente.

Eu queria... Mas estava com medo... O medo... O medo sempre meu tão presente amigo e inimigo, que me move e me derruba em iguais proporções. Até hoje ainda não sei se esse é o grande vilão ou o grade herói de minha história.

Eu perguntei. "Posso confiar?" o reflexo trincou um pouco, e com um sorriso simples disse. "Sim".
Não consegui, ou não quis ver se era uma mentira... Do contrário.... Eu não atravessaria. Era tempo de deixar a incerteza de lado e seguir.

Eu olhava fixamente no espelho, comecei então a caminhar. A dor dos cacos de vidro pareciam agora tornar-se chamar ardentes e afiadas em iguais proporções. Eu estava com medo, mas ainda sim segui.
A dor aumentava mas em algum lugar eu podia ver que existia mais do que ela na cena... Em algum lugar existia o motivo.

Prazer. Medo. Dor. Angústia. Arrependimento. Libertação. - não sei a ordem das palavras que apareceram escritas no espelho. Sei apenas que alcancei o braço estendido do reflexo. E tão logo eu o toquei, tudo se tornou trevas, e quando vi estava empurrando meu próprio corpo para longe do reflexo.

"Não no seu mundo!" eu gritei. Mas meu corpo estava me meio a um turbilhão.
O espelho explodiu e com ele um furação de fragmentos cortantes girava a meu redor, lacerando meu corpo e alma, eu queria sair eu queria encontrar o algo mais que estava naquilo.

Chutava e esperneava os cortes na esperança de afasta-los, mas um, dois alguns continuavam a me atingir e me ferir, mesmo contra a minha vontade.

"Não quero... Assim eu não quero!"
Eu tentei... Juro que usei todas as minhas forças para afasta-los.

Os cacos de vidro então se tornaram números, números e estatísticas, eram areia em uma ampulheta imensa e eu estava preso dentro de sua cúpula. Qual seria meu destino? Meu veredicto? Não posso.... Não posso aceitar que eu coloquei os números contra mim... Tenho medo do que esses podem fazer comigo.

Eu estava de volta voando sobre o enorme precipício. O espelho me olhando, era eu mesmo no reflexo. Coberto de cortes, sangue, dor e fragilidade, mas eu via em meu rosto um... o que era aquilo... no canto de meus lábios?

Um corte fez aquilo? Ou era um esboço de um sorriso?

Não sei...

Novamente a figura estendeu o braço para mim... "Você quer tentar?" - perguntou.
"Quero" - foi minha resposta. - "Mas não sei se consigo, meu corpo está muito abatido."

"Vamos uma vez mais... dessa vez eu colocarei as coisas sob o meu controle invariavelmente. Aceita" - perguntei ao reflexo. E o que antes parecia um esboço, agora era real. "Sim."

E novamente tudo explodiu. Mas dessa vez os fragmentos pareciam dançar a minha volta. Eu era levado para baixo do precipício, porém poucos conseguiam me machucar e descemos ao enorme baile de trevas e prazer.

Esse é meu melhor personagem. O que acredita que nunca houve primeira vez. Nascido com todo o conhecimento, que suas próprias mentiras são verdades absolutas. Como sua face, como seu corpo.

O prazer foi. O prazer voltou. E por um tempo foi a ele e nos seus braços com o suor que soube que ficaria tudo bem. Que não adiantava mais ter medo. Que agora era uma questão de aproveitar tudo da melhor forma possível.

Era o fim. Era o começo. Era eu.

Quando me dei conta estava deitado num gramado verde a manhã já estava em alta, as peles ao meu lado aquecia-me contra a brisa matutina. Mas havia algo mais lá. Algo mais. Algo além de mim.

Sim não estava sozinho, o Medo estava comigo deitado me olhando com seus aspecto tenebroso e sorriso fixo indecifrável, mas ele estava lá. O que será de mim?

Me pegava acordando e deitando rondando em círculos na sala do caos e no gramado, e no vazio. E as memórias e o desejo e lá estava o ele estático sem se manifestar olhando para mim e para minhas reações. Sabendo onde tudo aquilo acabaria um dia.

O Medo sabe do passado, do presente e do futuro. Ele sabe de nós, dos outros. Ele é nosso melhor amigo e também nosso mais ardiloso inimigo. Ele fere, ele cura, ele puxa ele empurra. Ele é a gravidade, a inércia e o tempo. É físico, etério, é real e imaginário.

O Medo é com quem estávamos em nosso nascimento e é com ele que vamos embora em nossa morte e nossa jornada rumo ao desconhecido. Ele é a unica força tão presente e forte em nós como nossa própria existência.

Foi ai que entendi que não se pode vencer o medo. Afinal vencer esse significa a sua própria morte.

É preciso saber e conhecê-lo melhor. Ele é você e você é ele. E a mais pura verdade sobre esse é de que ele é egoísta.  Essa é sua maior fraqueza e sua melhor qualidade. Pois é ela quem garantirá e se assegurará de perdurar ao máximo sua existência.

Agora é tempo de virar a ampulheta e aguardar o que o destino tem a dizer...

E uma coisa é certa; tanto Eu quanto Ele queremos que seja apenas uma briga nossa sem motivo.