junho 24, 2015

Olhos Pintados

Já amanheceu?

Que dia é hoje?

Quantos anos se passaram?

Vejo uma luz, por entre as frestas da madeira... Não... Não a luz vermelha das brasas e do fogo que a tudo e todos consome nesse limbo de cinzas infernal, nesse infindável tormento que ardia em minha pele e não me permitia sentir nada além de reviva dor constante.

Não... É uma luz nova... E o som... é outro... não mais dos estalos da fogueira que condenam a alma pagã... mas algo suave... um assovio frio, alto como se viesse do topo, do alto... Um ar puro, sem venenos ou fumaça... um ar novo.

De repente meus pulmões se enchem sem arder, e percebo que essa noite eu sonhei... Sonhei que podia sonhar, e isso me mostrou que a luz era verdade...

Levo-me para fora.

Ouço um som... Um som que não ouvia a tempos... um tilintar úmido, frio, fresco, puro...

Não estou mais cansado... mesmo na exaustão dos meus dias... da minha correria... não estou cansado... estou uma vez mais de pé, e a chuva cai.

A chuva cai e lava as feridas e as queimaduras que a tanto consomem minha carne e minha pele, e quando para as nuvens olho,  vejo que as cinzas não caem mais, e essas começam a clarear,

Sinto a luz, uma vez mais... O frescor da chuva me revigora.

Vejo que não estou sozinho, que de repente, em meio a uma multidão de som, musica cor e trevas, olhos pintados encaram-me de volta, e são esses olhos os mesmos que me fazem ver que não existe mais as trevas ao me redor, são esses que anunciam que a chuva pode cair, e que de repente me pego a sorrir...

Lembrando que foram esses mesmo olhos, a poucas horas que estavam fechados, exalavam pelos seus lábios o ar quente e ofegante que por segundos me mostraram que eu estava bem, que eu estava bem com esse alguém, ali em meus braços, por entre meus dedos, em meus lábios, com o gosto doce, doce que me fez acordar.

Com o toque na minha pele, com algo que enfim não me fere, que me faz acreditar que não é mais um sonho, mas uma manhã de inverno, pura, gelada e nova. Que me faz adornar à cama e endossar o prazer de não querer acordar, desse sonho tão real, que parece mentira, desse sonho de olhos pintados que me mostra o quão lindo um sorriso pode ser, se provier de lábios sinceros, a quem de repente, me faz bem fazer o bem.

De uma narrativa que Yule me trouxe, e a quem sou tão grato.

Por que sabe como eu me sinto?

Vivo.
De novo.