setembro 12, 2013

280 Luas

Eu estou queimando de dentro para fora. De fora para dentro.

Só quando se para, é que pode-se ver as feridas e as marcas, os vestígios e as consequências.
Cada pequena escolha lhe afeta de um jeito ou de outro. Cada acerto não supre seus erros, mas seus erros engolem seus acertos. É um mundo louco, solitário, cinza, indiferente. Cheio de gente, cheio de nada.

Andar na rua é devastador, pisar nos cacos de vidro que estão ali para sempre... Olhas acurva da rua e saber que não tem nada no final dela. Os números não batem...Mas os valores batem, sempre à sua porta.

Engole veneno dia após dia, tentando matar um pouco o desgosto e insatisfação de viver no limbo. O limbo da falta de perspectiva. O limbo eterno de um 1 ano e meio preso no nada e no desgosto. Pra onde vamos?

Pra onde vou?

Sozinho sempre, o que me impede de pular? Tudo sempre me leva para o mesmo caminho... O caminho onde para todos os lados vejo que estou me afundando cada vez mais na lama da 'aceitação' da mediocridade. Do abaixar a cabeça... Pouco a pouco, eu me torno mais patético, mas mortal, mais humano... E de repente a sensação mágica de ser normal é mais insuportável do que a de ser diferente.

Onde está o ponto fora do gráfico?

Meus pulmões ardem, com o medo, com a angústia... Com o desgosto de respirar um ar venenoso, mesmo após a fumaça não mais os preenche-los. Dessa vez... Chega.

As fugas são cada vez menos eficazes, as drogas já não mais satisfazem... Por que não existe propósito... Não exite nada. Só o fim. Só a cinza. Só o limbo.

Mesmo as vésperas da realização de um grande projeto, me sinto imune a qualquer excitação, é apenas tensão, cobrança, e o sono se esvai a cada momento, a cada dia mais...

Estou cansado. Muito cansado. Quanto mais eu durmo, mais quero dormir.... Quanto menos saio, menos quero sair... Quanto mais sozinho, mas dor eu sinto, a cada tosse um frio na espinha de pânico e medo...

A necessidade, a angustia de procurar me preencher mas nada satisfazer... Até onde posso ir?

É como se me arrastasse, incessantemente.... Para uma praia cada vez mais distante...

Saudades do mar... Saudades da paz... Saudades de me sentir menos vazio...

Eu ignorei o vazio, mesmo esse aumentando e aumentando a cada dia, a cada instante. Mas mesmo assim... Esse acabou me devorando... Eu não sinto nada... Apenas amargo... Um gosto seco e salgado, uma textura fina que seca  boca e não desfaz. Poeira dos ossos... Dos ossos que massacrei tentando me entender, e no final... O que restou?

Ouço o sopro do vento... e aguardo anuncio de que esse vai mudar... mas tudo que vejo é que cada vez mais me aproximo do abismo final, e cada vez mais escuro e nada.

Dizem que antes da calmaria vem a tempestade, mas tudo que vejo é a tempestade indo embora e eu desamparado, sozinho boiando em um pedaço de madeira podre, que logo... Logo não será mais o suficiente.

O que me falta? Me falta dinheiro, satisfação. Todos que amo prosperam, desabrocham crescem e sou feliz por cada um deles... Porém, não vejo mais saída pois não consigo mais acompanhá-los. O Ego, subiu a minha cabeça? Será que foi isso? Onde foi que eu errei? Por que eu estou tão sozinho?

Qual foi a escolha errada? Do que foi que eu abri mão?

O vácuo logo tomará o pouco que resta e quando esse não tiver mais do que se alimentar... Então poderei descansar, dormir... E deixar de existir? Será que é isso que quero? Tenho medo do fim... Não sei o que será nele, ou se será alguma coisa?

Sinto como se toda minha força se extinguisse a cada palavra... E tudo que sinto, é sono...

Sono me toma... E nele quero ficar pra sempre... No reino do tudo possível, do desejo, da correspondência...  Onde na chuva tudo existe, e não passou de um mal entendido, e o sorriso cura tudo, e onde a mão não está sozinha, mas apertada a alguém... Alguém a segura.

Estou cansado de estar sozinho... É delicioso o óde ao narcismo infinito de ser auto-suficiente, mas a verdade é que chego perto da 280ª Lua Cheia, e ainda... Só.

Meus pulmões ardem... o ar que respiro é venenoso... assim como as palavras que eu escrevo... Que só mostram como é possível rasgar a própria carne com um fragmento do espelho que outrora foi seu maior desejo.

O que adianta ser o reflexo perfeito de um exterior que anos projetou, se a vontade é queimar a pele e a carne para sentir algo... Algo que preencha ou algo que termine com esse vácuo.

Fim... É isso?